28/09/2013

Comparações: Portugal, Chipre e Islândia

A crise e a forma como a ela responderam os vários países permanece envolta em nevoeiro.
Tento aqui levantar a ponta do véu, mostrando dados que habitualmente são escamoteados à população pelos media.
Recorde-se que, destes três países - com uma crise comum em vários aspectos -, a Islândia foi o único que não se subordinou aos bancos nem ao FMI, que recusou pagar a dívida desses bancos e criou novos bancos ao serviço do interesse nacional, enquanto demitia os políticos e levava mesmo alguns deles a tribunal. 



Nota: Chipre está dividido desde 1974 em duas partes, turca e grega, devido à invasão pela Turquia como resposta a um golpe de Estado pró-grego que derrubou o governo legítimo.
Os dados fornecidos aqui são referentes à parte grega da ilha, única que aderiu à UE.

É visível que a Islândia, embora tendo a maior dívida externa dos três países, mantém um nível perfeitamente gerível de dívida pública, e dados recentes apontam que ela desceu já para 95%. 

Ao contrário, em Portugal ou Chipre a dívida pública não pára de subir. Também em termos de crescimento e emprego, a Islândia já recuperou - após dois anos de crise - e tem vindo a crescer.

No caso de Chipre, a troika pôde argumentar com o carácter um tanto mafioso da sua economia, muito baseada na lavagem de dinheiro russo e árabe que entrava na ilha para se proteger e lavar numa moeda forte, como é o euro. 

Mas o caso português é diferente, não tem nada a ver com Chipre. O Estado português não tinha nenhuma necessidade de se endividar tanto. Está a fazê-lo apenas para beneficiar privados mediante a injeção de dinheiro em bancos, empresas falidas e pagamento de rendas e indemnizações em consequência de contratos ruinosos que faz questão de respeitar - PPP, Swaps, rendas às EDPs, Lusopontes, Avensis, etc., e dos juros que vai pagando ao exterior.

Aliás, embora diferentes entre si,  Islândia e Chipre tinham antes da crise ativos bancários oito a dez vezes superiores ao PIB. Não é o caso de Portugal.

São este dados que não só são sonegados à população, como os media bombardeiam  constantemente os reformados e a função pública, sobre quem tentam lançar o odioso do défice.

Além da distorção da informação, há uma engenharia financeira destinada a canalizar fundos para o sector privado sendo que, na ponta final da trama, a maior parte desses fundos vai para o estrangeiro sob a forma de pagamento de juros, mostrando a quem serve este desgoverno.

Anotações: Chipre e Islândia

Semelhanças

Ambos são ilhas, com pequena população (Chipre: 790.000; Islândia: 331.000 - 2013)

Ambos tiveram independências recentes: Islândia separou-se da Dinamarca em 1943; Chipre, da Inglaterra, em 1960.

Ambos se tornaram paraísos fiscais, através de facilidades de aplicação e repatriação do dinheiro estrangeiro, com baixos impostos ou isenção total (na venda de ações, etc.). 

Isto fez crescer desmedidamente o respetivo sistema bancário : os ativos dos bancos representavam oito vezes o PIB na Islândia, e dez vezes em Chipre.

Ambos os países fizeram largas aplicações em produtos financeiros tóxicos, que após a bolha de 2008 no caso da Islândia, e há cerca de 1 ano no caso de Chipre, levaram os respetivos bancos à falência. 

Diferenças:  

Chipre aderiu à UE em 2004 e ao euro em 2008; a Islândia, apesar das chantagens,  recusou sempre aderir à União Europeia e mantém a sua própria moeda.

As aplicações de dinheiro estrangeiro em Chipre são sobretudo dinheiro sujo em busca de lavagem, sendo a maior parte das máfias russas (120.000 milhões € circulam por ano entre Rússia e Chipre), o que era facilitado pela legislação cipriota, baseada na inglesa.

Já as aplicações estrangeiras na Islândia eram sobretudo em busca de melhor remuneração.

O povo islandês não aceitou pagar a dívida dos bancos, exigindo que fossem à falência e redimensionados às necessidades da economia islandesa.

Já o povo cipriota, aceitou passivamente o domínio dos oligarcas nacionais e estrangeiros, aceitou o resgate pela troika da UE / FMI em troca de uma dura austeridade. Com o pretexto de não fazer os contribuintes pagar o resgate dos bancos, esse custo foi passado essencialmente aos depositantes. Muitos pequenos e médios aforradores perderam definitivamente grande parte dos seus depósitos; outros tiveram que pagar uma elevada taxa.

Os oligarcas e mafiosos russos - que representavam cerca de um terço dos depósitos nos bancos cipriotas, em grande parte para lavagem de dinheiro - esses oligarcas tornaram-se agora (últimas notícias...) donos do principal banco: o Banco de Chipre. A generalidade dos bancos cipriotas foi declarada falida, exceto o Banco de Chipre e o Banco Laiki (1º e 2º bancos do país) que foram resgatados. Tudo dentro da solução acordada com a UE.

Já com a Islândia a história é bem diferente. Ao fim de dois anos da eclosão da crise o país já começava a crescer e a criar empregos. O serviço da dívida foi negociado com o FMI, rejeitando  chantagens e estando a dívida pública a descer de ano para ano.

Para mais desenvolvimento dos temas:

DW.DE

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