05/10/2013

Análise dos resultados das eleições

A análise dos grandes media às eleições recentes mostra o quanto a manipulação campeia sem um pingo de vergonha. Falta de vergonha, aliás, que se alimenta do crescente alheamento dos eleitores.

Sobre um levantamento exaustivo dos 4 últimos atos comparáveis – autárquicas de 2001, 2005, 2009 e 2013 – cujos dados se veem abaixo, eis a minha própria análise.


1. Maior abstenção de sempre em eleições autárquicas e maior número de votos nulos e brancos, somando estes 368.552 (em percentagem, 7,37%), no que é claramente um voto de protesto contra o sistema. Número superior ao do CDS e BE somados e enquanto listas próprias.

Globalmente, os não votantes e os votos de puro protesto valem mais que todos os partidos juntos. Como pode ver-se:


VOTAÇÃO PARA AS ASSEMBLEIAS  MUNICIPAIS

Anos
Abstenção (não-votantes)
Votos brancos
Votos nulos
TOTAL
2001
39,87%
2,48%
1,50%
42,85%
2005
39,06%
2,87%
1,82%
43,75%
2009
40,96%
2,00%
1,27%
44,23%
2013
47,39%
4,31%
3,06%
54,76%
Fonte: CNE / DGAI
E não vale a pena os arautos do sistema desvalorizarem a abstenção com o argumento, que ninguém explicou bem, da desatualização dos cadernos eleitorais.
O que interessa são os dados em vigor. O sistema vive dos dados. Se eles são válidos para os partidos, também têm que sê-lo para as abstenções.

Comparemos a evolução dos votos expressos nestes 12 anos com o ato atual, tomando sempre como referência o melhor resultado do período .

2. O conjunto da direita perde  625.135 votos face ao seu melhor resultado, o de 2001 (Câmara Municipal - CM)

3. O PSD sózinho ou coligado com pequenos partidos, perde mais de 691.253 votos face ao seu melhor (2005, CM)

4. O CDS sózinho ou com pequenos partidos, perde 26.994 votos para o seu melhor (2001 - Assembleia Municipal)

5. O PSD e o CDS coligados entre si, perdem 268.922 votos face ao seu melhor (2009 - AM)

6. O conjunto da esquerda perde 287.109 votos em comparação com 2009 para a AM, seu melhor no período

7. O PS em listas próprias perde 276.183 para o seu melhor (2009 - CM)

8. A CDU / PCP perde 30.168 votos face ao seu melhor (2005 - AM)
Ao contrário do que a generalidade dos media propala (numa conivência notória com o PCP), não é um resultado "maravilhoso". 
Verdade que ganha 2 câmaras face ao seu melhor no períodoMas o PS também ganha 17 e o CDS 4, tendo ambos pesadas perdas de votos. 
No caso do PCP, o ganho de câmaras reflete apenas o "voto útil de protesto" por ser o único partido à esquerda do PS com tradição autárquica, sendo neste tipo de eleições que obtém sempre os melhores resultados. Além disso, o eleitorado quis mostrar um cartão vermelho aos partidos do chamado arco da governação. 

Ou seja, PS e PCP perdem votos face ao seu melhor resultado, mas o PS bastantes mais que a CDU.

9. O BE perde 71.728 votos, face ao seu melhor resultado (2009-AM), nada mais nada menos que 1/3 do seu eleitorado, desviado para o voto útil na CDU, no PS ou na abstenção
Em contrapartida, é facto que ajudou à inédita vitória nFunchal, liderada por independentes sobre ampla coligação que incluiu híbridos como o PTP, o PAN, o PND, o MPT e o próprio PS. 

As causas da perda de votos do BE, no geral, sendo anormais num período onde se devia dar uma radicalização, residem no carácter suicidário da sua linha subserviente ao PCP, juntamente com a dispersão de ações e a desfocagem relativamente aos interesse centrais da maioria da população.

De registar, por outro lado, que a linha ostensivamente sectária do PCP por pouco impedia a vitória da esquerda no Funchal,  única região que desde o 25 de Abril o PSD dominava ininterruptamente.

10. As candidaturas ditas independentes obtêm fortes votações no Porto, em Oeiras, em Sintra (independentes de direita), em Matosinhos e no Funchal  (independentes de esquerda). A principal diferença para atos anteriores, é que agora eles ganham cidades importantes como o Porto.

No conjunto, este tipo de candidaturas ganha 117.337 votos. O que origina leituras diversas, conforme as localidades. Quase todas provindo de divisões no PSD ou no PS, nem por isso têm que ter leituras positivas.

11. No Porto, o candidato populista lançou-se através da rampa da clubite mais primária, num painel de debate televisivo que acabou por abandonar por recusar demarcar-se da corrupção no futebol
É apenas mais um edil portuense com o truque do anti-centralismo, arma histórica da sempre privilegiada burguesia local e seus tentáculos em volta. Um feudalismo burguês que consegue o melhor dos dois mundos: o poder central de que sempre fez parte, e a pressão exterior que lhe amplia escandalosamente os privilégios.

Outro caso de falta de ética com apoio popular é Oeiras onde, apesar da prisão de Isaltino Morais por vários crimes como fuga ao fisco, os seus apoiantes promoveram uma candidatura vitoriosa sob o seu patrocínio.

12. Em conclusão, a maior vitória foi da abstenção e do voto de protesto, a par dos “independentes”. 
Vitória de Pirro, já que se trata duma reação passiva (na abstenção) ou oportunista-populista (em muitos dos independentes).

Fica claro um forte desgaste dos partidos, porém na base dum baixo nível de consciência política da população, pontapeada e roubada, mas permeável a todo tipo de demagogias como as citadas.

13. Lisboa é um exemplo disso, mas na área partidáriaAntónio Costa, de verbo fácil, calejado no manobrismo político, usando o apoio desproporcionado que tem nos media (sobretudo SIC), "chamou um figo" ao voto descontente. 

Bastou-lhe uns atos demagógicos sob os holofotes das TVs, como criticar à última da hora a troika e a UE como causadoras dos males da economia portuguesa. Crítica que foi apenas um fait-divers. Sendo essa política a pedra de toque de toda a política portuguesa e europeia nas últimas décadas, Costa não só nunca a combateu como, pelo contrário, a apoiou enquanto membro do órgão máximo executivo do seu partido. Será que andou a dormir e agora acordou de repente, ou é tudo uma questão de táctica e de palavreado?

Apoiado pelos "boys" de topo do PS na sua 1ª candidatura, procura disfarçá-lo nesta conjuntura adversa diversificando os apoios com artistas e gente medíocre "mediática" ou outra, politicamente ingénua.

Tudo manobras para ganhar os indecisos e esmagar à esquerda, fazendo a maioria absoluta. Prova de que Costa é um político frio que não olha a meios para atingir os fins. 

Nos dois mandatos anteriores não resolveu um só problema urbanístico de Lisboa: aeroporto, TGV, transportes , maternidade Alfredo da Costa, porto e zona ribeirinha, espaços verdes, trânsito, baixa pombalina, serviços de lazer permanentes para turistas e lisboetas como há em muitas cidades europeias, nada disso foi atacado a sério.

Ao contrário. Lisboa degradou-se, perdeu população, nenhum novo pólo foi criado. ICEP, IAPMEI e fundos europeus têm sido desviados de forma escandalosa desta região - que é o motor do país - para a área do Porto, sem uma palavra de protesto sua. Prefere iniciativas baratas e de puro marketing, como o "corredor verde" para Monsanto ou uma ciclovia em Belém - que analisei faz tempo na local Fantástica Lisboa (ver sobretudo o parágrafo final do artigo do link).

Dados numéricos de suporte (fontes: CNE, DGAI, INE e Pordata):

(Para ver os detalhes de todos os anos numa folha de cálculo da Google, clique AQUI)



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