17/10/2013

"LUTA" RETÓRICA E LUTA REAL

A realidade acabou por dar razão à minha posição crítica bem antes do que eu próprio esperava.

Perante a teimosa oposição dum Governo socialmente mais que minoritário, mas reacionário e empedernido, a CGTP recuou na sua intenção – que reiterara de peito cheio durante toda uma semana - de percorrer a ponte 25 de Abril em protesto a pé e, cabisbaixa, substituiu-a por uma travessia de carro que acabou numa vulgar concentração num local tão politicamente inócuo como Alcântara.


Bastaram 2 ou 3 dias para o espírito de resistência "revolucionária" da cúpula da CGTP ficar reduzido a pó.
O QUE SE SEGUE

Não é preciso ter um dedo que adivinha. A intuição adquirida em muitos anos de prática militante e de investigação sociológica permitia prevê-lo, assim como a fase que se segue, e que é dos livros: face a uma derrota real no terreno, para mero consumo interno das bases, a luta será substituída por uma retórica cuja radicalização verbal é inversamente proporcional aos factos.

O ativista Rui Maia, num artigo, criticava benevolamente esta posição da CGTP. Concordo no geral com ele, mas não quando afirma que a direção da CGTP "caiu na trapaça do governo". Eu acho que ela caiu, sim, na sua própria trapaça.

Essa direção não tinha, inclusive, garantido ao governo a boa ordem da manifestação? Ou seja, que tudo não passaria de uma marcha bem comportadinha como as anteriores, com a única diferença do décor: a ponte, com o Arménio Carlos a garantir que isso continha "todo um simbolismo".

NÃO SE GANHA UMA GUERRA DE AGRESSÃO 
COM RETÓRICA E MARCHAS INÓCUAS

Mas a verdade verdadeira é uma CGTP que insiste na única coisa em que é realmente boa: a retórica. Incluindo esse simbolismo. Porque simbolismo também é retórica. E, neste caso concreto, é mesmo somente retórica.

A trapaça por parte da CGTP está no facto de iludir os trabalhadores fazendo-os crer que se vence o grupo trauliteiro e autista que desgoverna o país com discursos e bandeirinhas, e marchas do tipo rebanho ordeiro trazido em autocarros pagos pelos sindicatos. 

E isso, perante um governo sustentado por uma agressiva coligação internacional a par de interesses internos com contornos mafiosos de grupos e regiões privilegiadas, aos quais se acoplam os media (todos organizados em rede, invisível para os menos preparados).

Assim, a CGTP cola-se ao que de pior se foi acumulando na sociedade portuguesa em décadas de subsidiodependência e de vassalagem às potências que mandam na UE: o acomodamento oportunista, sem verticalidade nem coragem.

Para a CGTP (e o partido que a formata), desde há muito que ser vanguarda não é - como deveria ser - estar à frente do povo e conduzi-lo. É estar atrás do povo, ou dissimulado nele, bem protegido, soltando uns discursos inflamados que iludem a ausência da luta real.

CORTAR O LASTRO QUE PARALISA

Estar contra essa burla há muito institucionalizada não é ser contra os sindicatos. É ser a favor dum sindicalismo militante e sério.

Estar contra essa burla da cúpula da CGTP e denunciá-la, é condição sine qua non para a separação entre águas limpas e turvas, primeiro passo para largar o lastro pesado que nos puxa continuamente para trás e desse modo reunir as condições para travar o combate contra a destruição do País e dos nossos direitos.

Parece um trabalho difícil e moroso, mas nos tempos que correm os acontecimentos precipitam-se, o relógio corre rápido. A parede sólida pode desmoronar-se em questão de horas ou dias.



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