12/11/2013

RESPOSTA À PROPAGANDA NEOCOLONIAL

Uma direita cúmplice e sem ideias, apenas sustentada pela chantagem terrorista da troika
O texto abaixo, resulta de um debate iniciado no site Que se Lixe a Troika - aqui - a propósito de declarações de Poiares Maduro, que invocava não haver alternativas para o corte que o governo que fazer uma vez mais nos salários e pensões.

O que contestei, enumerando múltiplas alternativas, como: 

- Anulação de parte da dívida que é da responsabilidade do BCE por protelar deliberadamente o combate aos especuladores
- Indemnização  pelas desastrosas políticas da CEE (PAC, pescas, euro...)
- Anulação de contratos fraudulentos, como as PPP, SWAPs, portagens, etc. (cfr. aqui um caso)
- Redução das rendas exorbitantes pagas pelo Estado às grandes empresas
- Eliminação dos privilégios fiscais das grandes fortunas e lucros
- Criar barreiras legais e informáticas à fuga de capitais
- Acabar com as mordomias despudoradas dos "boys" dos partidos ou dos privados
- Acabar com os auxílios desequilibrados a certas regiões, cidades e empresas privilegiadas
- Suspender as  privatizações e recuperar parte das empresas públicas lucrativas já privatizadas

Tomando alguns tópicos da extensa réplica (dum interlocutor de circunstância) como modelo "argumentativo" duma certa direita anti-nacional, eis a minha resposta.
OPINIÕES DUMA DIREITA SURREAL
NO PORTUGAL NEOCOLONIZADO

À arrogância da direita trauliteira já não bastam os media gerais, que domina a belprazer, ainda quer entrar nos poucos media que combatem a propaganda da troika. Só nos faltava isso...

Eu poderia nem responder. “Don´t feed the trolls” - como dizem no Que se Lixe a Troika
Não é a minha atitude - o demissionismo típico da esquerda tradicional não faz o meu género.

Abaixo, entre aspas, as afirmações do interlocutor, seguindo-se a minha resposta.


O ESTADO SÓ DÁ PREJUÍZO?

Empresas como a TAP e a RTP custam centenas de milhões aos contribuintes todos os anos.”

Quem fala assim não tem pátria,  talvez nem família ou amigos, porque só pensa em dinheiro.
O valor máximo passou a ser o dinheiro? Não para mim, obrigado!

A verdade: a TAP dá lucro operacional (se tirarmos o passivo), e dará mais a partir do dia em que expulsar os quadros e os gestores parasitas e tiver uma recomposição do capital.
Não dá, mas ainda que desse prejuízo... deveria manter-se como empresa de capital nacional. 
Pela fortissima imagem que dá do País: ela é a quarta empresa aérea mundial mais segura segundo a JACDEC de Jan 2011, e a melhor empresa aérea europeia para a Global Traveler.

Quanto à RTP, ela presta um serviço público imprescindível. 
Na Europa quase todos os países têm vários canais públicos, não apenas um. 
Dão “prejuízo”, é a linguagem dos mercenários
Mas eu digo: não dão prejuízo, têm custos !
Da mesma forma que para ter segurança há custos com polícias e forças armadas. Alguém imagina que a polícia ou os tribunais "deem lucros"? Onde está a cabeça desta gente ?

A direita antinacional o que quer, naturalmente, é que a informação e o entretenimento públicos sejam controlados por grupos privados, de preferência estrangeiros.
Mas, apesar da RTP ter sido desfigurada pelos sucessivos governos ainda é muito mais equilibrada e menos superficial que a SIC do Balsemão (um "homem Bilderberg") ou a TVI da espanhola PRISA.

A informação paga-se, tal como a saúde, a educação, as comunicações, a justiça, a segurança. 
É para isso que deviam servir os nossos impostos, infelizmente desviados para o estrangeiro, para as PPP do Sócrates, para as rendas às grandes empresas, para as mordomias dos corruptos e das regiões e cidades parasitárias.

“O estado não serve para gerir empresas. É muito mais fácil apenas receber impostos, sai mais barato!” 
Traduzindo: para esta direita, só pode produzir bens quem é movido pela ganância do lucro.  
Mais grave, ela vê como única função do Estado sacar dinheiro ao povo.
Portanto, nada de produção cooperativa, nem estatal.
É uma das grandes mentiras do neoliberalismo, “pensamento único” após a queda do Muro de Berlim.

Qualquer organização hoje em dia, independentemente de ser privada ou pública, faz gestão estratégica por objetivos, sujeitos a controle, Quem não sabe disso, que estude primeiro, e fale depois.

Peguemos no exemplo do vinho. Concordo que o sector dos vinhos se valorizou muito em Portugal (embora não devesse ser prioritário num país sem auto-suficiência alimentar). Não sou dos que acham que a CEE só provocou desastres. Alguma coisa boa tinha que haver no meio da destruição.

Destruição bem à vista na desertificação do interior e na consequente tragédia dos incêndios, para só citar alguns factos. 
A emigração já está ao nível dos anos 60, os de maior emigração no regime salazarista, incluindo jovens habilitados em quem o País investiu por décadas: 120.000 emigrantes, só em 2012 !
E, ao contrário de épocas anteriores em que o país era jovem e crescia, agora o País envelheceu e encolhe demograficamente, portanto os efeitos desta debandada são muito mais graves.

Poderão ser precisas várias gerações até (ou nunca) se recuperar o que está a ser destruído.
A desfaçatez destes "argumentos" ultrapassa tudo. É uma direita surreal que lança o país num processo de cegueira de si mesmo, numa espécie de esquizofrenia colectiva.


Voltando ao exemplo do vinho, grande parte do ciclo produtivo desse bem é da responsabilidade das cooperativas, como se sabe.
Ora COOPERATIVAS são empresas sem fim lucrativo. Organizações de sócios solidários, contrárias à filosofia egoísta paranóica do "pensamento único". 

A BASE FILOSÓFICA DO LUCRO

Para a direita, tudo na vida é regido pela ganância do lucro, ou seja, do que de pior existe no ser humano. 
Para "compensar" essa miséria moral, o capitalismo estimula a religião, a pregação do bem em palavras. Mas o que há no dia-a-dia das relações das pessoas nesta sociedade é um egoísmo feroz, funcionando a religião como mera auto-justificação e compensação moral.

Ao contrário do que sustenta o neoliberalismo capitalista, a maior parte das conquistas e do progresso humanos, foram feitos a partir do Estado e do interesse colectivo. 

Eis alguns exemplos:

- Os descobrimentos, promovidos pelas coroas (Estado) portuguesa e espanhola
- As grandes obras de arte  - como os Jerónimos -, pelo Estado 
(ou pela Igreja, que na Idade Média, era o grande Estado europeu, de que os pequenos eram vassalos)
 - Os computadores e a Internet, pelos exércitos na 2ª Guerra Mundial  (e aperfeiçoados por investigadores universitários)
- A conquista espacial, por organizações estatais americanas, russas, chinesas ou indianas - 
- O algodão colorido natural sem químicos, da empresa estatal brasileira EMBRAPA; ou o etanol (álcool de cana) que move a maior frota de carros híbridos do mundo, projecto estatal dos anos 60/70
- O eólico e o solar que revolucionam a energia na Alemanha, uma decisão do Estado. 
- O mesmo nos EUA, opção pelo gás de xisto, do Obama
- A maior parte das inovações portuguesas (conferir aquisão estatais ou resultam de convénios entre privados e universidades estatais, cabendo a estas a parte de investigação.

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A EDP, a GALP, a PT, a CGD e suas seguradoras, ou a CIMPOR e várias outras empresas públicas ou mistas são e eram LUCRATIVAS antes da privatização das que foram privatizadas.

Exemplo: a PT, já em 1994, apesar dos avultados custos de investimento na rede então em curso, obtinha lucros de 48,3 milhões contos - cfr. aqui, pág.20.

Quem diz o contrário, mente. Têm que o provar com números, não com propaganda barata. 

HAVERIA UMA FUGA DE CAPITAL PARA O ESTRANGEIRO? 

Se as pessoas que têm muito dinheiro (…) fogem, são CENTENAS DE MILHAR de empregos directos e indirectos que vão ao chão

Mas os ricos ociosos ainda têm o dinheiro no País? É òbvio que não, na grande maioria ele já está em bom recato lá fora, há muito!

Já os ricos menos ociosos, os que detêm os Hipers, as Galps, a cortiça, os bancos, os que lucram com a dívida soberana, os industriais ou agricultores que beneficiam de subsídios ou de comparticipação nas promoções lá fora, vão fugir para o estrangeiro?
Não. Os que eram para fugir, no estado em que o país está,  já se puseram a milhas há muito. 

Basta ver as centenas de empresas que fecharam ou se deslocalizaram nas últimas décadas.

Os que ficaram é porque algo de forte os liga a Portugal (matérias primas – cortiça, azeite, vinhos, etc. - ou mão-de-obra especializada, ou fornecedores com know how específico,  ou porque trabalham só com o mercado interno). Ou mordomias do Estado, ou falta de alternativas no estrangeiro para a sua área.


IMPORTANTE: A UNIÃO EUROPEIA TEM OU NÃO TEM CULPAS?

”Exigir indemnizações? (…) As regras foram iguais para todos os membros! Eles [UE] estão fartos de dar dinheiro a agricultura, pescas e educação! 

Quem diz isto são os que estão felizes com a ditadura burocrática da UE e o seu mito da “Europa dos ricos bonzinhos que ajudaram os pobres do sul”.
Está na hora de acabar com esses mitos de colonizados!

Uma emigrante na Alemanha chamava aos alemães "abutres".
Não faço tais generalizações mas, sinceramente, países bonzinhos, não conheço

No capitalismo, há uma regra simples: ninguém dá nada a ninguém. 
No capitalismo a lei é: vence o teu concorrente, ou serás vencido por ele. Simples.

Os países mais fortes da Europa – Alemanha, França e mais três ou quatro seus aliados – impuseram regras feitas à medida da agricultura francesa e da indústria alemã. TODOS SABEM DISSO!

Todos sabem que 80% do orçamento europeu vai para a agricultura francesa. 
E que o orçamento da UE, que inclui as migalhas dos fundos europeus, representa apenas 1% do PIB dessa mesma UE.

Comparar o que a Europa rica perdeu, com o que ela ganhou, é o mesmo que comparar os subsídios e apoios dados pelos "ricos" da UE (1%) com a quase totalidade da economia da UE (o restante, 99%)).
Haja pachorra para a parvoíce !

A Alemanha sabia que impor um euro forte e fronteiras escancaradas condenava as economias do sul europeu. Os políticos e técnicos corruptos portugueses, espanhóis, italianos, etc., também sabiam.

Porque Mercedes, Audis, máquinas hospitalares, painéis solares ou cosméticos que a Alemanha fabrica – por exemplo – sempre teriam mercado no Sul e no mundo todo, dado serem produtos de tecnologias específicas ou de marcas globalizadas. 

O lóbi das energias renováveis impôs regras absurdas na construção de casas na UE (incluindo Portugal) que obrigam a instalar dispendiosos painéis solares. A grande maioria desses painéis vem da Alemanha e da ÀustriaÉ só um exemplo, entre centenas, de factos que aparentam ser uma coisa, mas são outra.


CAVACO, PROMOTOR DA QUALIDADE?

Isto porque a UE e o Cavaco Silva fizeram com que as pessoas tivessem de trocar a quantidade pela qualidade... E na altura dele até o meu pai, que tinha apenas 15 estufas, fazia lucro e poupança no banco...”

Só faltava essa! É de rir… Cavaco, chefe dum governo que foi a maior aldrabice política do regime, que beneficiou do facto de entrarem mais de 6 milhões de contos POR DIA em investimentos estrangeiros e subsídios da CEE, desbaratou-os em betão, estádios, pontes e autoestradas, que estão literalmente às moscas, e gastam hoje rios de dinheiro em manutenção.

Embora eu até seja benevolente com a rede de estradas feita em parte no mandato de Cavaco - espero que ela ainda venha um dia a ser rentabilizada... - toda a gente, até a direita, reconhece que essa política foi um erro trágico para o País, que foi dinheiro desviado de coisas mais prioritárias.

Aproveito para desmontar outra mistificação: a de que foi Cavaco quem pagou a dívida anterior a ele ou reduziu a despesa do Estado. Pelo contrário, aumentou-a.
Quem pôs, de facto,  as finanças públicas "nos eixos" já havia sido, antes do governo Cavaco, o conservador Ernâni Lopes, ministro das Finanças do governo Mário Soares - o que hoje, e após a sua morte, é reconhecido por todos os quadrantes (incluindo Paulo Portas, que não teve a ombridade de o fazer enquanto ele viveu).
Eu, no entanto, sempre considerei Ernâni o melhor ministro das finanças após o 25 de Abril.

Quanto aos cursos financiados pela UE , fui formador e ajudei a instalar um centro de formação. Poderia escrever dezenas de páginas sobre o assunto, porque o vivi. 
Este tipo de cursos com apoio europeu foram um enorme equívoco e um fracasso, na maioria. 
Por culpa principal da CE que nunca fez o controle do produto, apenas controlava a burocracia e os processos burocráticos. 
Desde que houvesse 20 inscrições e 20 aprovações numa turma e as contas fossem rigorosas, os inspetores da CEE consideravam-no um êxito, não importando se houve ou não progresso dos alunos.

E não digam que a culpa é principalmente de quem executou. 
Com algumas exceções, a execução foi correta, as regras gerais é que empurravam para desvios. 
A burocracia exigida por Bruxelas era esmagadora,  impondo uma secretária e um contabilista a tempo inteiro só para os inúmeros dossiês, quadros e contabilidade, que davam muito mais trabalho do que a formação em si. Já nesta, muito pouca exigência era posta pelas instâncias superiores (o C.C.F.C., da Univ. do Minho), criando um clima de facilitismo.
Por isso, após algumas experiências e apesar  da remuneração interessante, decidi desligar-me por completo deste tipo de cursos. Tenho dificuldade em fazer aquilo em que não acredito. 

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A terminar, uma pérola típica do analfabetismo balofo:

O crédito mal parado em Portugal é superior ao empréstimo da troika.”

Uma afirmação tão pomposa quanto falsa.

Veja-se neste link do jornal Público que no total o crédito malparado é de apenas 15.000 milhões €.

o empréstimo da troika ultrapassa os 100.000 milhões, se incluirmos os juros - verifique aqui
Apanha-se mais depressa um mentiroso que um coxo ou ...

... pretensão e água benta cada um toma a que quer.

Estamos conversados.

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