14/02/2015

A MANIPULAÇÃO NOS MEDIA ON LINE SABOTA A DEMOCRACIA

As páginas de comentários on-line dos principais media portugueses estão cada vez mais intragáveis, quer pela baixeza dos insultos de prostíbulo que ali prolifera, quer pela desmultiplicação de perfis falsos e multi-nick anónimos, quer pela configuração das plataformas que afasta qualquer leitor por mais tolerância e literacia que possua. Um dos casos mais flagrantes é o jornal Expresso.

É um facto menosprezado pelos líderes de opinião (se é que isso ainda existe entre nós). No entanto é grave do ponto de vista democrático e deveria merecer mais atenção.

O sistema de informação mediático é dominado por comentadores e jornalistas comprometidos com o sistema em maior ou menor grau, escolhidos a dedo para os noticiários principais de modo a manipular o maior público possível.

SPAM, ASSÉDIO E MANIPULAÇÃO NA INTERNET
Mas as cliques no poder também perceberam a importância da internet. Aliás, tornou-se ‘obrigatório ‘ nas campanhas eleitorais constituir task-forces que mantêm a propaganda e a contra-informação de cada partido bem ativas nos media e nas ‘redes sociais’.


                                             Página de comentários a um artigo no Expresso on-line

Daí, a presença de plantões permanentes , em todas as páginas on-line e redes sociais, constituídas por “boys” partidários previamente preparados ou por tarefeiros das agências de desinformação contratadas - facto mais que provado.

As suas técnicas têm padrões:

 - Colocarem o primeiro comentário em cada  notícia mais lida, de modo a aumentar a visibilidade da propaganda do plantão

– Manter diálogos enormes entre os agentes do plantão ou entre perfis falsos criados por um só  agente, de modo a realçar a sua própria propaganda e a abafar a visibilidade dos opositores, empurrados assim para o fim da fila ou para segundas páginas; estes, se querem visibilidade, ficam obrigados a entrar como mera resposta ao comentário principal, no meio duma lixeira de diálogos artificiais semeados pelo plantão

- Nada de debates construtivos com o adversário; apenas propaganda do  lóbi que representam, se preciso truncando ou saltando de tema arbitrariamente, mas nunca deixando o opositor sem resposta, mesmo que apenas na forma de insulto

- Quando o opositor é forte e os desmascara, recorrem ao insulto  ou à ameaça – muitas vezes usando um ‘alias’ ou perfil falso – método sempre eficaz se o objetivo é destruir; perturba o opositor  e afasta outros participantes, que não percebem o porquê da zaragata

- Uso do método tipo tortura pidesca ou esquadrão da morte dos militares latino-americanos:  polícia bom de conversa civilizada, alternando com o polícia mau, que agride, humilha e ameaça

- O uso do perfil falso ou dum nome coletivo dificulta a identificação, já que o crime, para ser alvo de processo judicial, precisa dum autor identificado.

CRIMES NÃO PODEM FICAR IMPUNES
Há que pensar  seriamente em constituir apoio jurídico contra este tipo de assédio, porque além da degradação da democracia, resultam prejuízos morais graves nos visados, sendo de responsabilizar a própria direção do Jornal ou Grupo, mesmo que ela se faça de desentendida e declare que "os comentários são da exclusiva responsabilidade de quem os faz". 

Não são. Os criminosos só têm eficácia porque a instituição os mantém publicados e não os expulsa, apesar das constantes denúncias (há um "botão" para isso em qualquer página on-line). Existe pois uma conivência óbvia da direção que a coloca sob alçada da lei.

Para o efeito, as vítimas devem proceder a capturas de écrã de todas as ocorrências de assédio e guardá-las em local seguro. Eu venho-o fazendo regularmente e é bom os autores dos crimes, seus patrocinadores e diretores ou coordenadores das páginas ou grupos não pensarem que ficam impunes destes crimes, só possíveis pela bandalheira deliberada que promovem em tais espaços.

Finalmente, é uma ilusão pensar que os diretores ou coordenadores permitem tais práticas por mera ingenuidade ou incompetência. Alguns têm contratos com agências de desinformação cujo trabalho é esse mesmo: infiltrar agentes, criar anti-informação e barrar qualquer debate democrático sério. Não excluindo que alguns coordenadores de grupos on-line sejam agentes infiltrados por agências ou serviços secretos com o objetivo de sabotar e manipular grupos anti-sistema e transformá-los no oposto, matando na raíz qualquer verdadeira resistência.

OUTRAS FORMAS DE SABOTAGEM
Referi-me a uma das formas de sabotagem da liberdade de expressão.

Mas outras existem, como a censura direta aos comentadores mais incómodos. Em algumas publicações, como o Correio da Manhã ou o Record, verifiquei que os meus comentários eram barrados sistematicamente (os sites dispõem de detetores da identidade IP da máquina fonte dos comentários, é fácil bloquear qualquer participante).

Outros, como o Público ou a Visão, são mais seletivos, apenas alguns comentários não são publicados; na Visão, é difícil ser o primeiro a comentar, mesmo quando não há ainda nenhum comentário a um dado artigo.

No Público, deparei há dias com uma notícia sobre a TAP cheia de comentários da privataria avacalhando a companhia. Quando, mesmo sondagens "insuspeitas" - como as do pasquim CM - mostram que 80% dos portugueses são contra a privatização, como é possível APENAS existirem comentários em sentido contrário nesta notícia? Só um ingénuo pensará que não há ali trabalhinho das agências.

Outro método frequente é  retirar de imediato  qualquer matéria com muitos comentários contundentes para o sistema. Então, ou é colocada a mesma notícia retocada e limpa de comentários, ou  a matéria desaparece e entra uma nova em seu lugar.

O leitor comum não se apercebe destes truques e julga ser tudo  muito normal.

UMA LÓGICA COMPULSIVAMENTE ALIENANTE 
Mas há toda uma lógica profundamente anti-democrática nestas práticas. O simples cidadão torna-se um joguete manipulado.

Recentemente, descobri que o motor da Google guarda os gostos e visitas a páginas de cada utilizador, e foi configurado de modo a que as suas buscas sejam orientadas de acordo com os interesses que a Google acha que ele tem. Assim, dois utilizadores, fazendo uma busca no mesmo momento, na mesmo região e com a mesma expressão, raramente obtêm os mesmos resultados. Espantoso, não é?

Num sistema consumista, já de si cheio de convites à alienação, os ritmos desgastantes de trabalho levam cada um a procurar relaxar ao fim do dia, e fá-lo geralmente de forma alienante em frente a uma TV ou a uma consola de jogos, ou mesmo num vício mais grave como o álcool ou a droga.

E como se não bastasse, é montada toda esta parafernália que impede a pessoa de se esclarecer através do acesso à informação rigorosa e plural. Nada como ação preventiva,  não vá algum zombi acordar e revoltar-se.

Entretanto, se espera que as medíocres e coniventes direções da maioria dos partidos façam alguma coisa a sério -  o melhor mesmo é esperar sentado - nunca vai acontecer.


Sem comentários:

Enviar um comentário