20/05/2015

O CAPITALISMO É UM CORPO ORGÂNICO...

.... INFILTRADO  NO "CORPO" SOCIAL


Provavelmente não encontrará as ideias seguintes em nenhum livro.
Descobri-o através das lutas sociais onde estive envolvido, e da análise do comportamento de pessoas, grupos e instituições. E de como quase todos caem nas armadilhas e engodos lançados pelo sistema.

Já se perdeu a conta aos profetas da queda do capitalismo após cada grande crise.
A verdade é que ele renasceu sempre sob novas formas, mais forte e enganoso do que antes.

Concluo então o seguinte.
O capitalismo não é apenas um esquema sobreposto ao corpo social e estranho a ele.

O capitalismo é orgânico, como o cancro.
Entranha-se no corpo social e, de cada vez que é atacado com um remédio, logo desenvolve células de novo tipo que envolvem e estrangulam ainda mais  esse corpo....

É por isso que o capitalismo é orgânico. Não uma realidade estranha, sobreposta ao "corpo" social.
 

Coisa que a esquerda convencional em geral não entende.

Menos ainda o entendem os conspirativistas de direita (que reduzem os males do mundo à ação dum grupo de malvados, sejam políticos corruptos, seja a "máfia da UE" ou a família Rotschild). Ou,pior ainda, culpam os próprios cidadãos dos saques e desgaste a que eles-mesmos são sujeitos.

É por isso que falham no combate aos males do sistema.



O MARXISMO

Não estão em causa as intenções revolucionárias de Marx, nem a importância do seu extenso contributo para a compreensão da sociedade humana. Nem tãopouco que, na altura em que Marx e Engels criaram a teoria do materialismo dialéctico e dos modos de produção, definindo a História como uma sucessão de tais sistemas ,determinada pela luta de classes entre proprietários e não-proprietários dos meios de produção, o marxismo e os complementos doutrinários de Lenine e outros seguidores, não fossem duma importância crucial no desenrolar de revoluções que marcaram profundamente a História.

O problema é adotar perante tais doutrinas uma atitude contemplativa-religiosa, transformando-as em axiomas intocáveis, algo que é oposto ao método científico, método que obriga a colocar continuamente em causa e a testar toda e qualquer tese, por mais sólida que pareça.

A mecânica newtoniana da força de gravidade e do equilíbrio dos corpos celestes parecia duma solidez inabalável. Já não falando nos ensinamentos aristotélicos ou dos teólogos católicos medievais que precederam Newton.

Mas com Einstein tal visão foi derrubada e substituída pela Física Quântica com base na teoria da Relatividade. E na atualidade esta doutrina é já questionada pela Física dos fractais e outras novas teorias.

Seria absurdo pensar que numa área muito mais complexa como a área do social a ciência fosse diferente e as teorias tivessem congelado, não se movendo um centímetro.

O problema do marxismo é que é uma doutrina extremamente abstracta que desenvolveu um reportório complexo de conceitos nos quais se reproduz, isto é, vai criando conceitos cada vez complexos a partir de conceitos originais já de si bastante abstractos e complexos. Mesmo que as sucessivas apresentações dos seguidores lhes dêem um ar simples.

Um exemplo crucial na doutrina de Marx é a luta de classes como motor da História.
Ainda que alguns marxistas atuais neguem que esse seja um conceito central, ou que seja exatamente isso que Marx disse.

A verdade é que toda a construção marxista assenta nessa ideia, a da contradição entre o modo de produção e as forças produtivas, considerando que estas, a certa altura, já não cabem na camisa de forças do modo produção vigente, e será isso que explica a evolução (revolucionária) dum modo de produção dominante para outro, ao longo da História.

Modo de produção é a forma como está organizada a produção, não apenas no aspecto técnico mas também no aspecto social, tendo em conta o tipo de propriedade e as relações entre pessoas e grupos no âmbito do processo de produção. Tudo depende da propriedade dos meios de produção, que determina a composição e natureza das classes - segundo Marx.


Ou seja, o que determina a classe de alguém é  se possui ou não meios de produção, e por consequência, a forma e nível de apropriação dos frutos da produção.

Assim, toda a mecânica social, segundo Marx, é baseada na questão da apropriação da "riqueza"

A verdade é - superando a linguagem marxista estereotipada - que Marx parte duma realidade efetiva, a territorialidade do ser humano (como aliás de qualquer outra espécie, todo o ser vivo precisa dum território de suporte para viver) mas Marx considera essa territorialidade como algo puramente material logo, no fundo, tudo não passa duma luta económica, duma luta pela posse de território material.

A verdade porém é que às espécies, incluindo o Homem, não se coloca apenas ou quiçá essencialmente (pelo menos nos tempos atuais) a necessidade dum território material para viverem e se reproduzirem. Há outros mecanismos, entre eles o domínio sobre os seus semelhantes ou sobre outras espécies.


Assim como o domínio do saber, da técnica, e doutras formas de energia em que provavelmente Marx nem pensou.
Formas que remetem para laços de vários tipos que estão para lá duma territorialidade puramente física.

Talvez aqui estejam pistas para um nova teoria social mais complexa, flexível e abrangente, por analogia com a evolução para a visão quântica e fractal noutras áreas científicas. Em detrimento de visões fixistas que consideram certas teorias como intocáveis e sagradas.

Daí a dificuldade de combater o sistema capitalista e perceber finalmente que ele não é um mal imposto de forma externa à humanidade, ele entranhou-se no sistema social humano contaminando-o, ao ponto de ser difícil perceber onde começa a natureza humana e acaba a cobiça, a ambição desmedida e o egoísmo inculcados pelo capitalismo.

AS DOUTRINAS CONSPIRATIVAS

As doutrinas conspirativas, que reduzem a dinâmica social à ação perniciosa duns quantos sujeitos "malvados" como os Rotschilds, são ainda mais primitivas que o esquema marxista da luta de classes pelos bens materiais. Mas tornam-se atraentes porque fornecem explicações directas para os acontecimentos. Por exemplo, o 11/9 e o atentado às Torres Gémeas teriam sido fruto dum golpe da CIA combinada com a dinastia saudita. Ou a revolução russa só teria logrado sucesso porque foi financiada pelos Rotschild.


Mesmo que haja alguma verdade nessas interpretações, elas são extremamente redutoras, para não dizer surreais, sobretudo no caso russo.

Segundo estas visões, os primeiros homens da família Rotschild trataram de produzir uma extensa prole, não perdendo oportunidade para procriar com qualquer mulher, incluindo criadas, amantes, etc. Tudo para deixar o máximo de descendentes, de quem esperavam obter a defesa dos interesses da família, mesmo tratando-se de filhos ilegítimos.

Se o derrube de um prédio - simples estrutura material - pode ser resultado duma conspiração, já o desmantelamento dum Estado é fruto duma longa e complexa evolução que envolve todos os agentes sociais e exige forças muito complexas.

Só o longo processo de construção e consolidação do PCUS na sociedade semi-feudal russa deu origem a vários compêndios de História.
Imagine-se a revolução de Outubro de 1917 que mexeu com todas as forças sociais russas, e não só, até com partidos, grupos e interesses do mundo inteiro.

Daí a perigosidade de tais teorias, algumas delas provavelmente lançadas por serviços de contra-informação ou por grupos económicos com vista a anular a informação séria que logra circular na sociedade.

Isto não significa que não se construam raciocínios autónomos sobre as mentiras apresentadas pelos media do sistema, as quais é imperativo desmontar.

Mas cada coisa é uma coisa. Os mapas (as teorias) não são o território, mas são imprescindíveis para que nos orientemos. Ainda que tenhamos que refazer continuamente os mapas, corrigindo as suas imprecisões e lacunas.

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