28/10/2015

Portugal e o mundo numa curva perigosa da História

Quem esperava que a direita claramente derrotada se rendesse às evidências e cedesse tranquilamente o poder, equivocou-se.

Eu próprio que, em todo o tempo antes e após as eleições, alertei para a feroz campanha de intoxicação em curso nos media manipulados - em particular todos os canais de televisão - e para a tentativa da clique Passos e Portas (P&P) se manter a todo o custo no governo, cheguei a pensar pouco antes da comunicação do PR que Cavaco tivesse percebido a falta de condições e desistisse de a manter abusivamente no poder (ainda que temporariamente). Afinal não.

E desse facto há que tirar as devidas lições.

1. Uma delas é que não nos podemos fiar nos sinais enviados pelos representantes desta "nova direita" - que justamente se caracteriza por um cinismo e oportunismo sem limites, inclusive usando a técnica da "false flag" (bandeira falsa, ou infiltração nas linhas inimigas sob disfarce), dando sinais errados para confundir, apresentando-se seja com ar neutro ou técnico, seja até humorístico e brincalhão, seja o de "crítico" dos defeitos do sistema.

O grupo no poder envia sinais que procuram confundir o público e as próprias oposições, apoiado por agentes de diversos tipos disseminados nos vários níveis do sistema, alguns deles "false flags", ou seja, agentes camuflados e infiltrados   



Atualmente, tais métodos prosseguem bem ativos - pese a perturbação nas hostes da direita causada pela derrota (real) nas urnas.

Como ainda há algumas horas - e é apenas um exemplo entre dezenas, nos media - o "5 para a meia-noite" da RTP1 onde um tal Fernando Alvim cultiva um estilo jovem e pseudo-desalinhado (certamente não tem esse ar quando confere os chorudos honorários dos vários lugares onde é posto a poluir o éter) escolhia a dedo três "peças" participantes, todas elas compondo o mesmo ar pseudo-brincalhão muito útil para disfarçar a tensão da derrota e debitando frases amalucadas do género "se for preciso até apareço nu" - tudo truques duma espontaneidade calculada  (ao contrário do que é induzido no público) para melhor passarem a mensagem tóxica da suposta vitória da minoria de direita, mentira com a qual o grupo que domina o País há 4 anos e meio tenta justificar a sua manutenção no poder contra a maioria de esquerda.

2. Mas vamos assistindo a outras manobras - nomeadamente nas chamadas redes sociais - às quais é importante estar atento. Manobras neste caso promovidas por micro-partidos e pseudo-ativistas com fachada de esquerda mais ou menos radical, desde abaixo-assinados pedindo (??) o que não tem que ser pedido mas sim imposto por força da Constituição, PONTO  - um governo da maioria  -, até manifestações convocadas à pressa no meio do confusionismo, tentando desviar os ativistas inexperientes da luta a sério planeada e organizada, e pondo em cheque com atos pouco prestigiantes (manifestações falhadas, eventual violência isolada da ação de massas, etc.) a própria legitimidade da maioria conseguida na AR. Convinha aprender duma vez as lições das grandes manifestações do 15 Out e do 15 Set, porque foi esse tipo de fenómeno que se passou depois. Tal como se está a passar na Grécia e se vai passar em Espanha.

3. Mas também manobras nos media principais - pseudo-debates "abertos ao público" onde o apresentador manipula a belprazer (o comentador e o jornalista fazem comentários e interrupções tendenciosos), ou crónicas de pseudoespecialistas que aplicam o arsenal de truques do costume: argumentos "técnicos", fingir que criticam a situação para no final desferirem o golpe  (por exemplo, apoiando o candidato da direita, M. Rebelo de Sousa).

Um dos truques com o qual é preciso ter mais cuidado são esses comentadores "muito inteligentes" e "críticos".

Programas como "Eixo do Mal" e "Quadratura do Círculo" na SIC, são exemplos de análises inócuas, que nunca atacam o sistema na sua base, pelo contrário, criticam sempre aspectos fragmentários. No final, acabam sendo uma dialética vazia que apenas confunde a opinião pública. Veja-se o caso Clara Alves. Radical durante muito tempo nas criticas ao governo P&P no programa citado da SIC ou no Expresso, acaba apoiando a sórdida estratégia da mesma direita manipuladora para se manter no poder custe o que custar (!).

4. Infelizmente, os partidos reformistas da esquerda mais ou menos ambígua que lograram  em conjunto esta maioria na AR, têm um historial recente (como analiso em vários pontos deste blogue, por exemplo AQUI) que mostra um desconhecimento e até por vezes enorme conivência na forma de supostamente combaterem a direita e o sistema.

5. E os grupúsculos que se proclamam de esquerda, sejam de índole anarquista, trotsquista, ou mesmo estalinista (ou com outros "ismos"...) revelam-se na prática ativos defensores dos interesses da direita, seja difundindo mensagens deslocadas do combate real de cada fase, seja tomando iniciativas que se revelam provocatórias, desviacionistas e desprestigiantes para a esquerda, como as que refiro no ponto 2. acima.  

CONCLUSÃO

Enquanto em Portugal a VANGUARDA não se desenvencilhar dos elementos infiltrados que a mantêm manietada, não se reagrupar para constituir uma nova força política que estruture ações disciplinadas, flexíveis, focadas nas tarefas exatas e viáveis em cada momento, a direita continuará a passear-se impunemente e o sistema continuará aí, impante de arrogância, manipulando o povo a belprazer.

A clara manhã de justiça, fraternidade, dignidade, igualdade, onde a cada um segundo as suas necessidades e de cada um segundo as suas possibilidades, continuará adiada (exceto em proclamações patéticas e deslocadas).

O Homem continuará a ser lobo do próprio Homem, o cinismo e a ganância induzidos exclusivamente pelo sistema prevalecerão, continuando impunemente a obra de destruição da humanidade e do planeta, hoje já bem visível a olho nu.



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